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Old 08-10-2015, 01:51 AM   #1
kimusubi0
 
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Reflexão sobre o ensino do Aikidô

O "movimento de Aikidô", ou melhor o Aikidô, deve ser capaz de explicitar intuição e espontaneidade. É importante validar em nós e na nossa pratica, esta espécie de "inteligência da linguagem" nascente ou em realização. Quando conseguimos estudar o Aikidô sintonizado à vida e a esta "inteligência da linguagem", é pertinente evitar um género de essencialismo ingénuo, que leva a acreditar que na linguística (ou Aikidô) a regra fica antes da língua.
Quando experimentamos reger, ensinar ou organizar o Aikidô, sem compreender algumas regras intrínsecas, com vista a atingir mudanças específicas, mudanças mensuráveis, sem outras considerações, nem sempre é fácil compreender rapidamente, a enorme diferença entre disciplina e endoutrinamento.
Devido a uma certa separação entre o que fazemos e o que somos profundamente, muitas vezes sofremos fracassos retumbantes, ou estamos infelizes sem realmente reconhecer as razões profundas. Somos apanhados pela aparência das coisas, sem compreender o fundo das questões.
Somos algumas vezes asfixiados por uma ansiedade, que parece indeterminada, mas que pode nascer de "um devir suspenso" que não consegue encontrar no mundo, um caminho ou meio aceitável para se realizar. E quando são instaladas, duma forma desmedida, "as exigências" desta sociedade narcísica, esta tensão já desagradável, pode chegar a ocupar o nosso espaço vital.
Compreendido e integrado, o aspecto regulatório da nossa vida interior, não deveria ser omitido no acto de aprender algo, mas é verdade que nem sempre é fácil adaptar-se a esta realidade.
Apanhados pelo jugo "do querer", somos muitas vezes ignorantes e emocionalmente reactivos. Quando absorvidos por certas facetas dos fenómenos, escapa-nos em geral uma dimensão interior. A título de exemplo: não chegamos a integrar naturalmente e convenientemente no nosso presente: calma e actividade, distância justa, proporção, efeito de escala, o jogo do espaço/tempo, harmonia, etc.
Dominados pela reactividade, sem conseguir distinguir o essencial do supérfluo, podemos chegar à uma certa irracionalidade e desenvolver mecanismos (conscientemente ou não) que controlamos cada vez menos, sem verdadeiramente compreender a sua real dimensão e os problemas levantados a breve prazo.
Conceber, teorizar e/ou querer desenvolver um corpo artificialmente separado da consciência (ou do que lhe resta, igual ao autómato), equivale a adoptar a heteronímia (que recebe as leis do exterior, em vez de as ir buscar em si mesmo), em vez de uma sã autonomia e resiliência que vai fundamentalmente buscar os seus recursos nas profundezas de si mesmo.
A compreensão de um mundo polar, onde movimento e imobilidade são características aceites sem dificuldade, permite também levar em conta a regra importante da homeostasia aplicada a diferentes níveis da organização da vida no corpo, ligado ao seu meio que diz: "Todo o sistema deixado a si próprio, na ausência de uma qualquer perturbação, retorna espontaneamente (após um certo tempo) ao seu ponto de equilíbrio, através de numerosos processos reguladores". Esta descrição confirma até que ponto somos interdependente, com tudo aquilo que nos rodeia, como da nossa indispensável e cautelosa contribuição, para manter um equilíbrio saudável em vários níveis.
A perspectiva de ajustar-se a uma vida cheia e interessante, convida a presença, validando um "estado de consciência" (sem pensar) ligado à escuta despegada e inteligente de nós próprios com aquilo que nos rodeia, e permite indirectamente uma ponderação diferente e inabitual das nossas acções, participando assim a uma harmonia não limitada a interesses pessoais.
Respeitar o "shin" (o espírito) do Aikidô (não separar artificialmente o mundo exterior do mundo interior) não corresponde realmente a uma contabilidade ou a qualquer coisa que coleccionamos.
Como o tinha desejado o seu fundador, praticar Aikidô aparenta-se a uma maneira de ser e indirectamente de saber.

Jean-Marc
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"Tu as le droit à l'action, mais seulement à l'action, et jamais à ces fruits; que les fruits de tes actions ne soient point ton mobile; et pourtant ne permets en toi aucun attachement à l'inaction. Bh G"
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